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Sinto-me num episódio de Dr. Who com uma TARDIS mal amanhada.


É quase inacreditável dado o contexto atual que várias instituições de ensino não se tenham preparado para o cenário que estamos a viver. Mais inacreditável ainda é este silêncio.




Crónica de Sara Ribeiro



Deixei de ver notícias, primeiro porque não gosto de seringas e segundo porque já

começo a estar farta de ver desgraças. A minha mente está quase tão caótica como o

Capitólio no dia 6 de janeiro.


A todas as preocupações que todos temos sentido no último ano, acrescentam-se

aquelas que nos acompanham a nós estudantes regularmente. Mas parece que este ano

aquilo que por norma inquieta a comunidade académica ficou com ciúmes da atenção que

estamos a dar à covid e decidiu recorrer a esteróides.


Desengane-se quem pensa que este semestre foi melhor do que o passado. As

intermináveis horas de estudo tornam-se mais difíceis, porque estamos cansados e

preocupados, muitas vezes sem condições apropriadas para estudar em casa, sem acesso

às bibliotecas e salas de estudo que frequentamos habitualmente, quer por medo das visitar

quer pela lotação limitada; Os professores que quando colocam a máscara como magia

tornam-se fluentes numa língua que ninguém entende; Os exames com cerca de 150

pessoas enfiadas num anfiteatro que se confunde com uma arca frigorífica com cadeiras,

porque temos que estar em espaços arejados, ainda que antes de entrarmos dentro da sala

estejamos todos encavalitados num corredor.


Não me interpretem mal, o ensino presencial é ainda assim a melhor opção quando

existem condições para tal. O ensino à distância acentua as desigualdades de uma forma

abismal, o primeiro confinamento mostrou-nos isso. E vamos lá ser sinceros, acham mesmo

que podem fazer take-away de pedra para a malta de escultura? No entanto, por motivos de

força maior temos que ser resilientes e saber adaptar-nos às circunstâncias. Mas estamos

exaustos e o mínimo que se exigia era respeito pela comunidade académica. Sinto me num

episódio de Dr. Who com uma TARDIS mal amanhada, enfiaram os exames lá para dentro e

agora ninguém sabe quando serão. Uns dizem na Páscoa, outros dizem que será

simultaneamente com os de segundo semestre lá para o verão...E o doutor deve ter sido

raptado pelos daleks juntamente com a sensatez porque essa não a encontro em lado

nenhum.


É quase inacreditável dado o contexto atual que várias instituições de ensino não se

tenham preparado para o cenário que estamos a viver. Mais inacreditável ainda é este

silêncio. Ninguém falou dos alunos da área da saúde que foram impedidos de estagiar e

vêm a conclusão da sua licenciatura em risco, ninguém falou daqueles que perderam as

bolsas derivado aos maus resultados incentivados pela pandemia, ninguém falou dos

alunos da comunidade surda que muitas vezes recorriam à leitura dos lábios dos

professores e agora não o podem fazer. Falou-se de muita coisa, mas pouco se falou dos

estudantes.

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