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Não Há Economistas

Quero partilhar nomes, trabalhos, prémios e palestras. Quero mostrar orgulho nas investigadoras portuguesas, nas professoras internacionais, em jovens promissoras, nas “co-autoras” esquecidas pelo caminho.

Crónica de Beatriz Viana

Estudante de Economia na Faculdade de Economia do Porto


Sou orgulhosa finalista da licenciatura em Economia, na Faculdade de Economia do Porto (FEP). Não temos vista para o mar, em Paranhos não há surf, mas a experiência académica tem sido mais que positiva.


Provadas as minhas habilitações, não posso deixar de ficar indiferente a algo que é transversal ao programa curricular na FEP, na Nova SBE, ou na Harvard Business School. Não falamos de economistas. Já sei, já sei, falamos de Economistas: Adam Smith, John Keynes. Aprofundei teorias de David Ricardo, fiz trabalhos de pesquisa sobre contemporâneos como Richard Thaler. Ao longo de todo o curso, até agora, não ouvi falar de nenhuma mulher.

Estou longe nas minhas intenções de apelar a moralismos, sufragismos ou extremismos. Mas desta vez, apesar de ser tão moderada em tudo, de gostar tanto do cinzento que até apoquento os amigos e familiares mais efusivos, salta-me a tampa.


É anunciado, na manhã em que escrevo, o Prémio Nobel da Economia 2020. Paul Milgrom e Robert Wilson investigadores masculinos da Universidade de Stanford (surprise!) celebram, assim, o trabalho desenvolvido com a teoria dos leilões, explorando a formação dos preços de venda de bens e serviços neste formato.


O Prémio do Banco da Suécia para as Ciências Económicas, em memória de Alfred Nobel, foi galardoado pela primeira vez em 1969. Até à data, ao longo de 50 anos, apenas duas mulheres receberam a nomeação para o equivalente ao Nobel da Economia. Agregando todas as áreas de Nobel, como a Física, Medicina e Literatura, desde a sua instituição, foram premiadas ao todo 58. Não considero 58 um número satisfatório ou sequer representativo do trabalho académico feminino, mas entristeço-me em verificar o número 2, na ciência que enamoro todos os dias.


1969 não é História Antiga. Concluo que há falta de economistas, prefiro não descredibilizar a Academia. Dedico-me à pesquisa. Pesquiso a fundo. Concluo que afinal há economistas. Não as conheço. Falo com amigas e amigos: “é aquela das TED Talks?”

Apresento, assim, o mote para uma série de crónicas dedicadas a mulheres da Economia.


Quero partilhar nomes, trabalhos, prémios e palestras. Quero mostrar orgulho nas investigadoras portuguesas, nas professoras internacionais, em jovens promissoras, nas “co-autoras” esquecidas pelo caminho.


Convido-vos a estarem atentos se, como eu, partilham o gosto pelos números que contam histórias.


Não o faço por serviço público, sou egoísta: um dia vou escrever sobre mim própria.

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