Texto de Beatriz Viana
Licenciatura em Economia na Faculdade de Economia na FEP

Abril está no ar. As esplanadas desconfinadas e a cabeça queimada pelos primeiros raios de sol faz sonhar acordado com os dias e noites de verão. Alinhado o sonho à (esperança de) melhoria pandémica, os grupos do whatsapp voltam a vibrar com mensagens de “e este ano, para onde vamos de férias?”.
A queda do turismo foi um dos fatores que mais contribuiu para a quebra da economia portuguesa de 7,6% em 2020, e sabemos que a recuperação em 2021 não será tão rápida como desejada. A combinação da responsabilidade cívica e umas férias com custos mais económicos, levam a concluir que é, de facto, melhor optar pelo turismo doméstico e revisitar Portugal.
O turismo doméstico é o maior contribuinte para o turismo global, correspondendo a 73% deste, segundo os dados mais recentes da OCDE. . A pandemia veio trazer um novo reforço de peso deste agregado, seja pelas restrições de fronteiras, pela vontade de ajudar a própria economia ou apenas pelo receio de contrair o vírus longe de casa. Governos e instituições em todo o mundo apelam a “viajar para dentro” e descobrir iguarias de cada território.
A revista The Economist publicou, na semana em que escrevo, uma análise dos resultados de um estudo da Bernstein para a OCDE,, que mostra o impacto que teria para a economia, o caso do turismo tornar-se completamente doméstico, nos vários países. É de atentar que o próprio relatório revela ser uma previsão aproximada, admitindo simplificações generalizadas, embora sendo bom indicador de tendência.
Os dados mostram-nos que os verdadeiros beneficiados pelas medidas protecionistas do turismo são os países cuja recuperação económica já está a revelar-se mais favorável, como a China ou os Estados Unidos. Países mais pequenos e mais abalados pelo choque da pandemia são, na verdade, os principais prejudicados, como é o caso grego, espanhol ou, como seria expectável, português: o gráfico mostra-nos que, se todas as viagens passarem a ser domésticas, Portugal pode atingir aproximadamente perdas de 15,908 milhões de dólares.
Então em que ficamos? Perdemos se sairmos, perdemos se ficamos? Há vários fatores que podem explicar esta quebra, nomeadamente a dimensão populacional e a propensão ao consumo. Portugal é um país cujo turismo depende da população estrangeira que consome geralmente mais, e mais caro, quando passa férias pelas praias e hotéis portugueses.
Haverá solução para esta previsão? Podemos nós, enquanto meros veraneantes, ser impulsionadores da recuperação económica? O meu lado otimista e economista alinham-se aqui, na expectativa de que cada contributo será valorizado. Devemos, sim, escolher Portugal para as férias de verão e deixar os planos de internacionalização para 2022 (quem sabe com “passaporte verde”).
Vamos marcar descidas pela Costa, conhecer o interior pela N2, uma semana no Algarve, trilhos na Serra d’Arga, acampar no Gerês, surfar no Guincho, ir conhecer os arquipélagos ou, quem sabe, desfrutar da própria cidade berço na costa “del quintal”.
