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Classe trabalhadora: espinha dorsal da Nação


Texto de Manuel Salema Garção

Estudante de Economia, NOVA SBE


Lisboa, 1 de Maio de 2020

O título deste texto deixou, há muito tempo, de ser um lugar-comum. Bastou-me perceber isso para estar certo da pertinência desta reflexão.

Há um problema crescente de empatia entre as elites políticas e a classe trabalhadora e, enquanto o primeiro grupo continua sem se conseguir conciliar com o segundo, há quem vá explorando essa falha. Aproveitando o facto de ser dia do trabalhador, proponho-me a reflectir sobre este conflito cada vez mais real; tentando não cair na tentação dum discurso cansado, repleto de insultos dirigidos aos oportunistas desta cisão.

Seis dias antes do feriado de hoje, outro feriado houve que simboliza, entre outras coisas, que se deve pôr as pessoas à frente do Estado. A classe trabalhadora vangloria-se dessa conquista. Ao mesmo tempo, a classe política vai se esquecendo desse feito vezes de mais – por exemplo, quando discute as alternativas que podem gerar um maior crescimento económico, sem colocar as variáveis trabalhadores e emprego digno na equação. Os trabalhadores, como qualquer membro da sociedade, querem sentir-se bem-sucedidos, independentes e úteis para a sua comunidade – e é por isso que nunca lhes será suficiente o argumento de que os mais pobres de hoje têm acesso a mais bem materiais do que tinham muitas classes altas de séculos passados.

Há quatro anos, F. H. Buckley tomou proveito desta divisão: aliou uma guerra aberta à imigração clandestina – que aumentava a oferta de mão-de-obra para trabalhos pouco qualificados – a muitas outras causas que tocavam a alma dos trabalhadores americanos, e conseguiu fazer com que todo o Sul, quase todo o Midwest e grande parte do Nordeste Industrial dos Estados Unidos se congregassem contra Hillary Clinton, um dos maiores símbolos do sistema. Esta coligação de vários populismos, por mais paradoxal que possa parecer, elegeu, para Presidente dos Estados Unidos da América, um homem do mundo dos negócios. Um cidadão de Nova Iorque que, como dizia um comentador político português, não deve ter lido mais do que dois ou três livros de auto-ajuda em toda a sua vida.

É por isto que, ou a classe política começa a fazer por dar resposta à classe trabalhadora – que, mais do que alheada, muitas vezes se sente marginalizada social, económica e politicamente – ou qualquer pessoa que irrompa no sistema, evocando certas bandeiras que toquem nas feridas dos trabalhadores, pode ascender ao poder. E Portugal não é excepção.

É urgente que se volte a colocar os trabalhadores e o emprego digno no centro da equação, quando se discutem e implementam políticas económicas. Mas isto não significa que se deixe de acreditar na instituição do mercado – um casamento para o qual não encontro um nome melhor do que Capitalismo do Bem Comum –, para além de que a iniciativa privada pode ter um papel fundamental neste processo. Quer a iniciativa privada do pequeno empreendedorismo, deixando de se resignar às burocracias que só grandes organizações conseguem suportar, quer a iniciativa privada de grandes grupos empresariais, que na maioria dos casos são quem mais emprego dá à população.

Há sempre a tentação fatalista de acreditar que “Este distanciamento e esta falta de controlo profundamente sentidos não são um problema a ser resolvido por um liberalismo melhor e aperfeiçoado – ao invés, esta crise de governação é o culminar da ordem liberal.”, e que teremos de partir para um sistema completamente novo. No entanto, e porque todas as tentativas de se criar um sistema alternativo ao liberalismo acabaram em maiores opressões à classe trabalhadora, prefiro a reforma e aperfeiçoamento do sistema liberal à sua substituição.

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