Avizinham-se tempos de crise política? Estará António Costa estrategicamente com vontade de ir a eleições e atrapalha tudo no seu executivo para que tal aconteça? Só sei que as jogadas do Partido Socialista acabam sempre por tramar o futuro de uma geração às portas de entrar no mercado de trabalho e que tem vontade de ficar em Portugal
de Francisca Marialva
Meu Deus, porque sois tão bom
Em 2015, o executivo formado por António Costa decidiu coligar-se aos partidos de esquerda, Bloco e Partido Comunista para que pudessem apresentar uma maioria absoluta no parlamento e destronar a direita que, efetivamente, tinha ganho as eleições (após anos de políticas de austeridade).
Os deuses divinos da constitucionalidade permitem, em Portugal, que os votos representativos do povo se canalizem para colocar um partido, no qual não votaram, no poder. Um voto é um voto de confiança nas facções políticas e nas suas decisões. Nada de errado aqui.
Foram 4 anos minimamente calmos, tendo em conta o passado de crise económica que o país enfrentou e foram 4 anos em que o sentimento de portugalidade se elevou com várias trivialidades que acabam por aquecer a alma do povo - o futebol com a vitória do euro 2016, como a música e o triunfo dos irmãos Sobral na Eurovisão, com o Papa a marcar presença em Fátima. Ser português estava, finalmente, a compensar e os turistas cada vez mais concordavam que o sol da costa sudoeste da Europa era único.
Sem parcialidades, o ciclo económico que atravessámos nesses anos é fruto do trabalho dos anos anteriores ao executivo socialista e, também, da própria economia que vai encontrando ruelas para se regular e estabilizar. No entanto, o executivo socialista triunfou e vangloriou as suas políticas incrivelmente eficazes ao ponto de terem efeito imediato nas vidas dos portugueses.
Tenho muita pena de vos ter ofendido
Após um primeiro mandato no poder, onde todas as promessas eleitorais são feitas e as cedências nos acordos com a esquerda são saciadas, as coisas começam a complicar. Agora, o poder está mais centralizado e o executivo de António Costa apercebeu-se que os portugueses estavam dispostos a votar nele para que a máquina continuasse oleada. E assim o foi.
O governo começou a não saciar os acordos com a esquerda e a esquerda, entre a espada e a parede, começou a entender que já não eram tremendamente essenciais para que o PS pudesse governar. As lutas de espadachim começaram nas negociações do Orçamento do Estado e desde aí que o afastamento das políticas da esquerda tornaram-se, de novo, evidentes.
Depois, vieram os “escândalos”, aquilo que faz o manso português elevar um pouco mais a voz; mas, como neste caso, o executivo é do Partido Socialista, as marés até foram mansinhas em inúmeros acontecimentos com corrente forte o suficiente para afastar um experiente mergulhador da sua pesca:
Como é o caso da gestão do SEF, após a morte de Ihor por três trabalhadores da entidade, por parte de Cabrita que em audição no parlamento admite encerrar o Centro de Instalação Temporária do Aeroporto de Lisboa, deixando de aí ser alojados os requerentes de asilo. De seguida, apesar das camaratas do espaço terem sido convertidas em quartos individuais - cada uma com um botão de pânico - a direção do SEF não mudava, continuando Cristina Gatões no cargo.
A viatura oficial do ministro da administração interna, Eduardo Cabrita, matou um trabalhador de 46 anos na A6 enquanto executava trabalhos na via. No entanto, não se sabe a que velocidade ia, não se sabe os resultados da autópsia da vítima (nem a própria filha os conhece), o Ministério Público pediu para que o inquérito ficasse sob segredo de justiça, sem qualquer tipo de justificação.
Já nos festejos do Sporting, apesar da maior parte das culpas ser da atitude dos adeptos leoninos que ignoraram os perigos de contágio a que levariam certo tipo de celebrações (contra mim falo), a organização estaria sob a responsabilização da Administração Interna e nunca nem da CML, nem da Polícia que, em muitas vezes, concordou com medidas do clube que foram negadas pelo MAI. Eduardo Cabrita tudo nega. A dúvida ficou no ar.
Sem me querer alongar, dado que as euforias socialistas no executivo são muitas, terei de passar à frente do caso do ex-Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, ter fornecido dados pessoais de manifestantes à embaixada russa, do alongar de certas regras e medidas no contexto pandémico que se foram prolongando sem qualquer justificação e que, muitas vezes, nem passavam pelo parlamento, havendo uma banalização e aproveitamento do estado de emergência para qualquer circunstância.
Tal como agora se mantêm as máscaras nas escolas e impedem os pais de entrar para deixar os filhos nos jardins de infância, mas nas discotecas a utilização da máscara é contraproducente. O êxito da vacinação ser um pelouro, um dalouvar à organização socialista, quando se deve ao mérito do Vice-almirante e à capacidade portuguesa de confiar na ciência.
Foco me, então, por último (mas não porque me faltem argumentos) no que considero mais grave ainda que tudo isto: a utilização do Plano de Recuperação e Resiliência como arma eleitoral por parte do Governo nas autárquicas 2021. António Costa esteve de mão dada com diversos candidatos socialistas pelo país a afirmar que “um voto no partido socialista” é meio caminho andado para ter implementação de fundos do PRR no município ou freguesia, onde residem, porque ser amigo do Governo é bom.
Ora, os fundos europeus tratam-se de fundos para todos independentemente da cor política que vestem, o Governo, em circunstância alguma deveria beneficiar o partido que forma o executivo na implementação de dinheiro europeu para ajudar na crise pós-pandémica.
Mais uma arma de propaganda, por parte das redes sociais do Governo, para fazer campanha foi a apresentação destes dados:

Não só compara valores em percentagem com valores absolutos, como generaliza o “governo de direita” e o “governo de esquerda”. Engraçado que não dá jeito evidenciar a percentagem de o,25% que conferiu à Cultura no OE2022 e que não convém explicar o contexto do Governo de 2012-2015.
Ajudai-me a não voltar a pecar, amén
Avizinham-se tempos de crise política? Estará António Costa estrategicamente com vontade de ir a eleições e atrapalha tudo no seu executivo para que tal aconteça? Só sei que as jogadas do Partido Socialista acabam sempre por tramar o futuro de uma geração às portas de entrar no mercado de trabalho e que tem vontade de ficar em Portugal. Apesar de não nos mandarem emigrar diretamente, as indiretas são bastantes óbvias. Como sabemos, o partido socialista não tira, nem diz cara a cara aos portugueses, o partido socialista é como aquele cristão que se vai confessar para aliviar o mea culpa momentâneo, mas que na semana a seguir lá está outra vez.
Para o católico, Deus é misericordioso; para António Costa e os socialistas, os portugueses são só mansos.