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Ética e Ambiente

A proteção, o cuidado e o respeito em relação à natureza surge como uma obrigação moral, não só pelo direito a um planeta habitável para as gerações futuras, como, e sobretudo, pela ideia de que a natureza tem um valor intrínseco.

Crónica da Greve de Porta Aberta de Helena Rodrigues

Professora de Filosofia


O termo Ecologia significa etimologicamente ciência, saber ou estudo (logia) da casa (oikos). Desde logo, este termo remete para a ideia da casa dos seres vivos, portanto, uma casa partilhada pelos seres vivos, a ideia de coabitação.


A Ética é a reflexão sobre as ações humanas visando o bem ou a ação boa.

O objetivo primeiro é, pois, estabelecer a relação entre ética e “natureza”, procurando identificar as ações humanas e as consequências em relação à natureza.


O termo natureza adquiriu um sentido – é tudo aquilo que está fora do homem. A designação “relação homem-natureza” refere, precisamente, não somente a exclusão do ser humano da natureza, como se este não pertencesse ao mundo natural, como ainda a separação, a rutura, entre um mundo humano e um mundo que incluiria os animais não-humanos e todas as espécies naturais. Na base desta perspetiva dualista - por um lado o homem, por outro os restantes elementos da natureza - está uma concepção antropocêntrica, caracterizada por uma relação de poder do homem em relação à natureza. A exclusão do homem da natureza visa o seu domínio, dado que esta é vista como uma reserva disponível que pode ser usada sem limites. A relação homem-natureza está assim centrada nas imensas necessidades e nos desejos humanos.


A ética antropocêntrica, segundo a qual só os interesses humanos contam, deve ser substituída por uma ética ambiental, em que o ambiente apareça como uma preocupação moral. A proteção, o cuidado e o respeito em relação à natureza surge como uma obrigação moral, não só pelo direito a um planeta habitável para as gerações futuras, como, e sobretudo, pela ideia de que a natureza tem um valor intrínseco. Esta é uma ideia central do filósofo alemão, Hans Jonas, na sua obra, “O Princípio da Responsabilidade”, publicada em 1979. Tal supõe uma inversão na atitude humana: o dever de respeito e cuidado para com a natureza não deve traduzir uma preocupação centrada nos interesses do homem, consciente de que uma prática que destrói a natureza é uma prática que destrói o ser humano; ao invés, deve repensar-se a espécie humana como pertencendo ao mundo natural e, como tal, perceber que a natureza não tem um valor instrumental, ela vale não por causa do homem.


Propõe-se deste modo uma ética biocêntrica centrada na ideia de que todos os seres vivos são dignos de consideração moral. Nesse sentido há que repensar as ações humanas, individuais e coletivas, as cívicas, políticas, científicas, tecnológicas. O homem não é dono e senhor do mundo que habita. Há um dever do homem para com a natureza, de solicitude e de responsabilidade. Hans Jonas, referindo-se a uma das três exigências fundamentais que são colocadas a quem age e decide, refere: «os políticos e os homens de ética devem insistir nas suas posições públicas nos efeitos negativos futuros do nosso comportamento atualmente irresponsável, em vez de adotarem um otimismo pateta e suicida».

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